são duas da manhã
e eu decidi eternizar esse momento
talvez
um momento onde nunca houve tanta dor
e tanto ódio
e tantas lágrimas
a casa sofre comigo
as roupas encharcadas
afundando na máquina
os cigarros no cinzeiro
o banco manchado de preto
meu corpo bêbado
minha mente confusa
assimilando aos poucos
o que eu passei
o que você me fez passar
o que eu passo
faz 10 horas desde que
eu decidi ficar bêbado
então não houve um segundo
em que eu estivesse sóbrio
amanhã, vou acordar
para a infelicidade geral
e vou continuar
a virar doses de vodka
pura
pensando
“como isso foi acontecer?”
“como você foi fazer isso comigo?’
e pensar que eu vomitei apenas uma vez
e pensar que eu gastei o equivalente a
várias refeições
nessa vodka e nesse cigarro
e pensar que agora senão fosse
pelo meu lamento e pelo meu choro
tão ridículo quanto tudo isso
você estaria dormindo no
peito dele
ou pior
você esteja, nesse exato momento
enquanto escrevo esse texto
eu te odeio
acima de tudo
hoje mais do que nunca
tão claro quanto nunca
eu te odeio muito
enquanto isso
não vejo a hora de acordar amanhã
e beber o resto dessa garrafa
jogar cinzas no chão
e escutar músicas as quais não vou lembrar o final
esse poema é um dos piores que escrevi
sem liricismo nenhum
apenas um relato
do que você me fez passar
de onde eu estou
eu te odeio