é indefinível o que eu sinto e o que eu vivo
mesmo que me oferecessem tudo no mundo para que eu colocasse em palavras o que são esses dias, eu não conseguiria
não por que eu não quero, eu até tento
—
e eu me sinto tão sujo
tão corrompido
eu tenho memórias de quando criança
de quando olhava ao céu estrelado na varanda de casa e falava com Deus
—
hoje eu já não vejo mais estrelas e nem a Ele
e é uma relação complicada
o fato de estar nublado, o céu e minha realidade, impede
impede de vê-Lo; de achar o cruzeiro do sul
—
e realmente o céu tá nublado
mas eu só notei por agora
quando eu sento em frente a alguma casa na área mais nobre desse bairro
e acendo um cigarro
o único momento que minha mente não me tortura e eu tenho tempo pra notar os detalhes
—
eu me sinto sujo
é difícil eu me colocar na posição de vítima
não é como se eu quisesse
não é como se eu quisesse tudo isso
eu não quero nada disso
—
em todos os meus textos chega um momento
de devaneio
de desespero
onde eu escrevo e escrevo e escrevo mas
já não é a mesma escrita do início
eu não me conheço mais
—
eu me sinto tão traído
e eu juro que eu tento entender
me colocar no lugar
a única pessoa que eu não consigo me entender
se colocar no lugar
sou eu mesmo
—
e eu me pergunto o motivo de você continuar nos meus sonhos
de ser a primeira e última coisa que eu penso
com angústia agora
—
e não é sobre isso
não é sobre um sentimento
eu nem sei mais sobre o que é esse texto
—
isso não é um poema
um desabafo
uma prosa
é um registro
de que eu lutei
—