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2 min readJun 5, 2024

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Imagine uma estrada vazia, a qual apenas é iluminada pela luz da lua, tal ambiente que é tomado pelo som uníssono de grilos, sem nenhuma alma errante por perto.

Apenas O Suburbano que andava por ali, segurando uma garrafa de uísque, com uma camisa social branca manchada de vermelho, a qual não se sabe se é batom ou sangue, com um cigarro acesso em sua boca, anéis em suas mãos, e um olhar virado para o norte.

Ele anda, devagar por conta da bebedeira, mas com firmeza e insistência, transparecendo claramente a imagem de alguém que não desistiria de seu objetivo, senão fosse por um carro que se aproximava.

Quatro policiais. Saem do carro, armados. Param O Suburbano. Quebram a sua garrafa e apagam o cigarro em seu peito. Derramam seu próprio sangue e rasga o rosto com socos. Quebra costela com chutes e o joga atrás do carro, saindo assim de cena.

Então, imagine um lugar mais isolado ainda, um lugar de vegetação fechada, mas nem tanto assim também, ainda conseguimos ver o céu, assim como os porcos e o lobo.

Eles cavam uma cova, colocam o lobo de joelhos e atiram apenas uma vez.

Então, O Suburbano é enterrado o mais fundo que eles conseguem.

é inconfundível a sensação de terra
em minha garganta
sempre foi ela que me entrega
que eu morri de novo

Amanheceu, e o homem que foi enterrado se levantou. Agora com uma roupa toda preta e um buraco na testa, ele levanta e sai andando procurando uma saída.

como eu imaginava, aconteceu de novo
não acredito que eu consiga sair
desse inferno escroto
é a sina de todo homem

revivo como uma ovelha negra
tímida, observadora, cautelosa
um tanto quanto feia
mas ainda sim ardilosa

seguindo os passos opostos
do lobo sem medo
ainda sim me pergunto
continuo preto?

nunca é um fim pra ele
sempre é uma vírgula
nunca é um adeus pra ele
sempre é um te vejo lá

ele vai voltar, mas enquanto isso
vou catar minha mente do chão
sei que não é preciso
mas vou escrever poemas no vão

tudo que eu fizer
ele ainda vai apagar
mas eu sei que ele vai ter
o que ele merece; ele vai pagar

não falo dos porcos
falo do lobo
cuidado com ele
e com o seu dente de ouro

pois é com ele que se importa
é esse dente de ouro que ele ama
é essa mordida fatal que ele mostra
são as lágrimas da vítima que ele clama

são os espólios de seu jogo
que ele coleciona
é medo em seu olhar e rosto
é crueldade que ele leciona

mas eu não, eu sou uma ovelha
uma ovelha preta e calma
que anda ao sul em rapidez
e é subordinada em alma

um mais um é igual a zero
sempre foi e sempre vai ser
enquanto nesse corpo eu dividir
a existência, o viver, com esse ser

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