o poeta está morto
e junto com ele todo seu amor
seu esplendor, sua beleza
enterrado em um caixão de ouro
o poeta está morto
pois com tanta avareza
não se há tempo pra arte
quando o intuito é apenas ganhar
quando se trata sobre números
quando se trata sobre gráficos
quando falamos sobre ganhos
não rimamos e nem sentimos
ele morreu, sim
afogado em rancor e
em lamber sua própria ferida
viciado em expor seus tumores
após morrer, foi cremado
a sua poeira restante foi jogada
em um rio de diamante, assim como pediu
mas um dia depois, não restava mais nada lá
pessoas afirmam que o viram
e de fato, todos nós entenderíamos
que ele chama muita atenção
mas não tanta quanto julgaram
o seu bolso furado em sua veste preta
faz todo seu ganho sumir
todo o seu diamante fugir
e seu choro rugir
o homem que escrevia sempre
teve um vazio em seu peito
o qual ele preenchia com o brilho
de suas palavras e melodias
mas hoje, não há mais chances
seu holofote é passageiro
e quando acaba, o persegue
o clama, o inveja
e quando não o alcança
sua mente queima
em seu próprio fogo eterno
seu castigo no inferno
se vestir com um terno
feito de espinhos
mas sorrir feito o diabo
olhando para rosas em um jardim
que fazem a mesma coisa
retribuindo o amarelo de seu dente
se fazendo perder com o prazer
a momentânea euforia
saltos rápidos para o paraíso
e um mergulho direto pro
lago de hades
que o aguarda toda manhã
deitado em lava, ele permanece
ele continua, pensando em como sair
como voltar, como recuperar
aquele olhar atento
para todas as constelações
que um dia apontou com amor
nos céus cruzados por prédios
dessa Salvador
mas se olhou no espelho e
para seu reflexo admitiu
que era grande demais
para essa cidade
descobriu ser então suburbano
e por ter nascido nos extremos
já conheceu o centro
morreu com sua arrogância no norte
reviveu na orla submerso de soberba
por ter visitado a alta
já era conhecido na baixa
já tinha domado essa cidade
o poeta morreu, mas o suburbano vive
para a tristeza de todas as estrelas
para a pena de todos os textos
para a morte do amor
o suburbano vive emaranhado de poder
e junto com ele, sete almas o seguem
guiando seu caminho tortuoso
até o dia que descubra
também estar morto