2° vítima.

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3 min readJan 24, 2023

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Seus olhos piscavam na velocidade de uma bateria raivosa, sua respiração se tornava cada vez mais forte, seu sangue corria pelo seu corpo, esquentava seus dedos e firmava a musculatura de sua mão, ele segurava o aço tão forte que seus dedos embranqueciam, uma voz ecoava na sua mente e repetia feito uma melodia infernal.

Você está pronto?

Ele pensava, a graça nunca esteve no retirar, no arrancar, no expelir, no puxar. A morte é como um lobo em um plano nevoso, um demônio que pisa no solo fofo e ninguém escuta chegar, a caça é o que o levava ao ápice.

Ver aquele animal viver a sua vida todos os dias, caminhar seus passos planejados, falando, sorrindo, pensando, andando, vivendo, era o presságio do fim de sua história. Seja em um beco escuro, numa rua vazia, numa casa perdida, qualquer lugar nesse mundo significava o seu ponto final.

Ele pensava, a graça sempre esteve no conquistar, no perseguir, na sede, e não no sangue. De forma viciante, o medo e o pensamento “o que eu fiz pra merecer isso” o conquistava, o remorso injusto, iníquo, nojento, repugnante, emético, do animal, era um compilado de agrado, regozijo, satisfação, goivo, alívio, era como ele precisasse das lágrimas, da tentativa falha de fugir, ou de lutar.

Enfim, quando o momento chegou, ele seguiu até o último momento, sabia que viraria a esquina da direita e seguiria reto até a moto que se estacionava sempre depois das meia noite e cinco, o último veículo que se espera nessa rua.

Ele olhou para os céus, e eles haviam se fechado, não notou a presença de nenhuma estrela, e a lua fugiu atordoada de horror, do lado dele havia apenas o grande Diabo, o motor e máquina dessa mente infalível e corpo sedento, ele soube que era a hora.

A barra de ferro se chocava contra a cabeça do animal, o porco grunhia de forma que era fácil se confundir as lágrimas com o seu sangue, havia questões, pedidos, requisitos e acima de tudo, um “por favor” que tocava feito uma ópera em seus ouvidos. A barra de ferro se chocava contra suas pernas e o ruído dos ossos se quebrando e rasgando a sua pele fazia a saliva de sua boca crescer em sequência. A barra de ferro se chocava contra sua mandíbula, que para alegria dele, não fez o porco desmaiar, não fez a graça se esvair e ter que terminar com a sua obra prima.

Quem ele quer enganar? Ele estava ansiando pra acabar com aquilo, chega em um momento que o poder de tirar uma vida a qualquer momento sobrepõe o prazer de machucar um corpo qualquer. Os olhos se fechando, os músculos se enrijecendo pela última vez, o último e tão esperado, mas tão esperado suspiro? Senhor, ele não aguentava mais.

Enfiou a barra de ferro em seu peito e pressionando cada vez mais, cada vez mais fundo, alternando em golpes em sua costela e fazendo o porco sangrar da forma que sua espécie foi feita para sangrar, esperava com dor terminar a sua trajetória infeliz em terra.

Mas, o animal continuou vivo. A graça realmente estava na caça.

Seus olhos piscavam na velocidade de uma bateria raivosa, sua respiração se tornava cada vez mais forte, seu sangue corria pelo seu corpo, esquentava seus dedos e firmava a musculatura de sua mão, ele segurava o aço tão forte que seus dedos embranqueciam, uma voz ecoava na sua mente e repetia feito uma melodia infernal:

“Você está pronto?”

Escrito numa segunda, às 23:20.

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