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2 min readNov 6, 2024

dormi a tarde inteira hoje. era pra ser apenas um cochilo antes que eu me dedicasse a limpeza de minha casa. acabei dormindo quatro horas.

quando acordei, senti que algo havia mudado. não conseguia dizer o que ou como tinha mudado.

minha cozinha alagou pela incontável vez nesses quatro meses que vivo neste apartamento. o tanquinho tem um mecanismo péssimo para escoar a água, logo isso acontece mais vezes do que o comum.

pensei em apenas secar quando chegasse da faculdade. a qual estou atrasado para aula.

estou trabalhando em um filme o qual o nome é neocorpus. o enredo é uma reflexão sobre o avanço tecnológico e os ideais existenciais e morais ao redor. toda vez que tento explicar, explico de uma forma pior.

por algum motivo, as pessoas me observam hoje. parece que há um ímã de olhos enfiado em minha testa.

já se passaram dois praça da sé até agora.

salvador inteira é um poço de espaço e tempo misturado com uma agonia específica e uma melancolia pior ainda.

é facil de encontrar esses fragmentos de almas perdidos por aí. nas inúmeras luzes em prédios e outdoors ou nos faróis amarelados dos carros.

um córrego de esgoto nunca é de fato somente um córrego. é um pedaço opaco de uma lembrança sem resistência que lampeja em sua mente esperando o fim.

o colégio integral não é somente um colégio particular o qual os filhos dos meus ex chefes estudam.

é uma estrutura feita de gesso, ameaçando significar algo a qualquer momento.

a orla da pituba não é somente a costa situada no bairro com um cheiro terrível de merda.

é um lamaçal com extensão quilométrica sempre regurgitando algum tipo de piada cômica ou ofensa de alguma crônica.

essa é a graça dessa cidade. até a mínima rua sem saída no bairro de narandiba pode brilhar de uma forma diferente.

cenários sem algum tipo de vida onde o terror individual de cada um cria um sopro próprio para sua história.

onde a lua encaixa exatamente entre o meio das duas torres da civil tower.

e os prédios que me encaram logo na saída do meu apartamento são deuses que me encontrarão ao fim dessa reencarnação.

toda vez que morro em prol da continuidade poética dessa cidade, me sinto ainda mais vivo.

como se os fios suspensos da linha do metrô e a fumaça negra que os ônibus amarelos e verdes expelem fossem o combustível e material necessário para que continue respirando.

vou secar minha cozinha hoje, aproveitar e lavar louça, varrer, passar um pano, fazer o trabalho completo.

amanhã será outro dia.

no entanto, um terceiro praça da sé passa e minha paciência ameaça chegar ao fim.

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