Eu pesco o meu eu antigo nesse mar turbulento de perdição
Eu fisgo e rasgo a barriga da covardia, com vontade de fugir
Eu fico aqui, parado, ao lado dessa cachoeira enquanto escuto minha mente funcionar
Eu me afogo na irracionalidade e paranoia enquanto me questiono em quem confiar
A água é a incrível cola que me impede de voar
Ao momento que ela cai aos meus pés e seu som se confunde a uma TV chiando
Meu espírito volta ao meu corpo e me faz sofrer, mais uma vez
E eu sempre peço que volte, e que me faça sofrer, pelo menos mais uma vez
Eu finalmente me perdi onde eu achei que havia me encontrado
E me questiono se nesse mundo tão vasto se um dia vá me perder de novo
Eu finalmente percebi que é impossível de eu me encontrar
Que nunca haveria alguém pra procurar, que só sempre haverá alguém para se perder
A água é o precursor da lágrima, da risada, da raiva, da alma
É o antecessor da insanidade, da gargalhada, do xingamento importuno, do momento
Do desabafo comigo mesmo, no espelho
Do vômito, do sangue, do questionamento, do grito
Por mais que essa mente se incendie o dia todo, todo dia, por mais que a poeira do que já foi ela algum dia retorne e forme pensamentos de cerâmica, por mais que quebradiço minha esperança, minha confiança, meu amor, por mais que cinza o meu rancor, por mais que pálida a minha alma, por mais pele que exista no meu fantasma;
Ainda sim, não saberei o motivo da água correr tão rápido nos meus olhos.