HR 1457

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2 min readMay 23, 2023

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Ao olhar no espelho, ele percebeu algo que era fato, há mais tempo do que ele gostaria, não se reconhecera. Olhou para seu polegar que sangrava de forma imoral, um sangue vinho, rubro, doloroso, que não tinha gosto de carne, mas de ferro — e por mais que isso seja algo bom, duvidou. Não reconheceu nenhuma parte do seu corpo, enxergava para suas extensões e via abandono, ao seu lado esquerdo, direito, em sua frente, atrás dele. Para ser sincero, na sua frente via apenas um homem sem alma.

Não sabia mais se era um vampiro; que não satisfeito com vinho e sangue, buscava dor daqueles que o amava, buscava o pior para não se sentir sozinho, carregava uma adaga venenosa que retirava o brilho de qualquer estrela cadente, que atraia sua gêmea para o fundo do poço com seu amor cintilante e traiçoeiro, que morria de medo de ser abandonado, um fraco que precisava se alimentar da dor alheia e tinha devaneios com morte. Mas também não sabia se era um anjo; um anjo que havia acabado de conhecer o quente, abafado, sufocante e solitário inferno, que havia sido abandonado por Deus e pela sua nebulosa preferida, que não tinha mais esperanças e nem asas para tentar voar, que vivia de falhas e recaídas desesperadas, dolorosas, estúpidas, e prestem atenção em estúpidas, pois era inútil tentar novamente, mas mesmo assim ele tentava, um anjo que sentia medo do amanhã, um anjo impotente, paranoico, químico, que não aguentava mais o peso dos ossos que um dia sustentavam suas asas que fora arrancadas pelo diabo, que todo dia que acordava pela manhã ouvia a risada do príncipe do inferno.

Não sabia quem era, mas sabia que seria por pouco tempo, pois ambos dessa figura, tem data de validade para deixar de existir.

Ele tinha tanto pra falar, mas o sangue ou o fogo o calou, provavelmente para sempre.

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