algumas vezes
fui rei por eras
e deitei em camas
vermelhas em ouro
algumas vezes
fui porco
e me lancei a
lama sem hesitar
durante tais eras
venci e fui vencido
por indivíduos
parecido contigo
com as mesmas
falhas nos dentes
e espaços
entre as coxas
e entre esses
espaços em
que me perdia
nunca encontrava
o início de tudo
um único olhar
que me prenderia
em transe puro nervo
até olhar aos seus
que ora irreativos
ora animais
consegue ser
vermelho em tudo
que se propõe a
ser
ou melhor
roxo sonho
então como poderia
esquecer tão
facilmente
esses
inúmeros recomeços
entre troca de olhares
tão efêmeras e
insignificantes
ao interlocutor
ao fogo que apenas
existe nessas linhas
e no dedo do
poeta desesperado
como poderia
interromper esse
entorpecer que
me convence a
cada dia que passa
que eu preciso de
cada centímetro
de sua língua, pelo
acertos e erros
tomadas e pausas
viagens e falhas
todo ouro e prata
que sua arte pode
propôr neste
momento
em que
escrevo e penso
em você
querida, ao menos
você pode
não morrer?
continue me
aterrorizando
com seus olhos
de raposa