h
2 min readJan 4, 2025

coleciono minhas derrotas
em pequenas caixas

onde se acomodam no
passado ou em um futuro
nunca vivido

abro a primeira caixa
olho então: alguns
poemas, uma música
cinco anos

alguns erros empilhados
em outros erros

você vai a praia aqui em
salvador

enquanto eu passo calor
preso em meu quarto

só de pensar que você
e toda sua singularidade
presa nos pequenos dentes
em sua pele rosada

e no sinal ao lado da sua
boca vermelha

passeia por aí nessa cidade
presa no mesmo buraco
de sempre

me sinto assassinado
pela quarta vez no dia

mataria ou morreria
e se possível faria
ambos

para ter os outros quinze minutos
recentes que tive

presenciando toda singularidade
do minha princesa da culpa

abro então a segunda caixa
olho para esse mundo inteiro
de sangue e cinzas
do que um dia já foi

somente fogo

eu vejo inúmeros poemas
uma música
um curta cinematográfico
noites mal dormidas

ressacas seguidas de
mais ressacas

estrelas apagadas e
constelações esquecidas

você passou o ano ao lado de
seu novo homem

logo após de me ligar

perguntando como que
eu consegui estragar
minha vida em
dois mil e vinte três

te respondi com uma palavra
muito simples:
cocaína

mas ainda sim, tive a pouca
decência de te recomendar
não fazer isso

no dia seguinte, você e sua
tendência escorpiana de
sempre esfaquear
independente da

intenção, se prova

e com todas essas cinzas
de cartas antigas queimadas
admiro uma última vez
minha caixinha da derrota

abro então a última
vejo uma paixão de verão
permeada por dúvida e
talvez arrependimento

não se dialoga com a culpa
no entanto, é possível
se perder nas memorias

te escrevi crônicas
cartas
te compus uma
música

quando foi embora
e meses depois
não falhei com a
minha tendência

escorpiana

o tempo foi injusto conosco
o espaço foi cruel
mas nada seria diferente

pois meu andar químico e
inseguro
tomou o papel de
dar o rumo

restando assim uma última
opção

viver o ridículo
o absurdo
preso nos tecidos
de meus lençóis

enquanto o suor queima
minha pele

enquanto lágrimas ameaçam
escorrer em
minha pele

enquanto meu sangue
refaz o mesmo caminho
em toda minha
pele

me volto aos poemas
me volto aos minutos
presos nos instantes
que nunca voltarão

ao estado presente

e assumo as derrotas
colecionando-as
em caixas.

h
h

No responses yet