maju, escrevo pra você. preta, de pele avermelhada, olhos atentos, cabelo cacheado, magra e com o humor ácido.
te conheci numa casa de fumaça, de cor vermelha, definhando aos cantos. você e uma amiga sua se aproximaram, aproximação essa que eu retribui. nos beijamos essa noite.
chegamos a sair um determinado momento, quando te conheci tinha cabelo, no dia que te vi novamente, já estava de cabeça raspada. hoje já tenho cabelo de novo, no entanto, já raspei minha cabeça mais uma ou duas vezes.
lembro que não demos muito certo, você era um ser de energia exagerada com um leve otimismo preso em seus passos, o humor ácido, sem freios e sem medo. eu, o contrário, um escritor que se alimenta de sua própria dor - e todos esses cliches que reforçamos.
a noite foi agradável, a minha vista muito mais. apesar da incongruência de espírito, olhava pra você com todo desejo que minha jovialidade permitia. eu me debruçava em seus lábios e pernas enquanto você conduzia toda a conversa. de alguma forma, o mundo se reduzia a você no momento em que você quisesse.
você tinha essa luz presa na sua íris que queimava as sombras adormecidas atrás de meus olhos. por isso que, talvez, não demos certo.
lembrei que no fim da noite, após tomarmos sorvete no rio vermelho, liguei para um amigo e disse "não sei. ela é ótima, mas não sei". hoje eu sei, maju.
queria dizer a você que depois de ter te conhecido, amei mais uma mulher e voltei a amar outra. ambas foram embora de minha vida. ambas coexistiram no mesmo período e eu consegui machucar ambas.
queria dizer que as sombras que dormem até hoje atrás de minha retina continuam aqui e que exatamente como a você, ambas tinham um ser de luz na iris. um viver que colidia com o meu, os passos mais delicados e as pernas mais frágeis que guiavam um andar limpo, que contrastava com o meu, torto, errático, errante e em direção a perdição.
ambas eram raios de luz incandescentes que mapevam o céu em momentos de breu. no entanto, minha força negativa conseguiu apagar ambos dos feixes.
queria dizer que o seu sorriso continua em minha mente, logo, o ser de luz continua incomodando as minhas sombras. por isso, escrevo a você.
não espero que um dia você ache esse texto. fico enjoado só de pensar na possibilidade.
estava tomando banho após correr cinco quilômetros na suburbana, fumei um baseado com amigos antigos de outras épocas e no chuveiro, lembrei de você.
eu me lembro de você, maju.
com carinho e olhos bem vermelhos, pedro henrique.