essa fumaça em meu quarto
eu chamo de ferramenta de escrita
véu cósmico que esconde meu rosto
escurecem o desencanto da vida
o cheiro amadeirado do inferno
em sua majestosa iluminação vermelha
me alcançou novamente, mais uma vez
a euforia em minha mente despeja
tal como judas trocou cristo por
moedas de prata
me parece que vendi minha paz
por absolutamente nada
não me deixe, meu amor
não, não vá, não largue minha mão
de novo não, de novo não
não me deixe nesse vão
não há alívio nem silêncio
nem satisfação
presente em qualquer prêmio
que arranque de mim essa solidão
o que constitui os fios de seu cabelo?
para me hipnotizar em tamanho desejo
em qual nunca me vi preso na vida
nesse ciclo infinito de despedida
ainda estamos arrastando um longo adeus?
ainda dançará comigo um outro dia?
sob luzes e harmonia de uma noite fria
ou a quietude de um metrô numa quinta vazia
o que constitui esse seu sorriso tímido?
que me inspira a transformar risos
em poemas e textos finos
movido por um amor límpido
a necessidade de ter, e viver, e crer
é fruto do perder, morrer e esquecer
não morra, não me perca
e não me esqueça
encaro uma tela branca tentando
arrancar lágrimas de meu rosto
com sorte, a madrugada me guarda
em meus sonhos você me aguarda
e o que me espera no dia seguinte?
cinza, perdas, mortes e esquecimentos
questionamentos, faltas e saudades
tentativas falhas e mais cinza