como ler meus textos e quem eu sou!

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2 min readAug 23, 2024

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eu não quero que ache meus textos bonitos. não quero que leia meus poemas e pense que é lindo.

eles não são. assim como meu olho torto, assim como minha barba mal preenchida, assim como meu cabelo, assim como meus lábios escuros, assim como as queimaduras no meu braço, assim como os pelos no meu peito, assim como as cicatrizes em meu pulso.

eu não quero que você veja beleza no que eu escrevo. eu não quero que essas linhas cheias de rancor, de ira, de ódio, de frustração, de dor, seja utilizada como inspiração para um personagem fictício e conhecido por ser formidável.

não sou formidável.

não sou belo.

eu sou uma constante ameaça do rídiculo e do absurdo, uma estrela de neutron carregada de ódio, pronta para implodir.

um rato preso em uma jaula. sou um devaneio da contemplação suicida sem idealização, a adoração da ideia de estar morto, ou pior, de me machucar severamente, seja porque eu mereço ou porque somente assim teria olhares de cuidado para mim.

sou o completo cansaço das pernas, dos braços, sou vômitos em postos de gasolina, no banheiro do trabalho, no vaso de minha casa.

sou o espelho distorcido que piora o reflexo do seu corpo e do mundo toda vez que você olha pra ele.

sou louco, beirando ao patético.

sou o eterno quase, um homem de tentativas e não de acertos.

sou o eterno “eu te amo, mas não é a hora”.

sou uma camisa de botões que faltam dois botões.

sou o ressentimento, o ciúmes retrogado, a sensação de abandono, de derrota, a impotência, sou as correntes que me prendem nesse cotidiano, sou o curta mal feito enquanto estive bêbado, sou a sensação de ter falhado sem nem ter começado.

sou o esquecimento, ao mesmo tempo, sou suas últimas memórias. sou frio, gelado, feito um corpo que já estava morto, não caloroso.

sou medíocre, não extraordinário.

sou descrente, pessimista, mas dependente.

sou meu próprio carrasco, na verdade, carrasco de todos e tudo.

sou o já conhecido, o esperado, o ciclíco, o agosto de todos os anos, não sou novo.

sou seu cemitério de amor, o qual de mês em mês você coloca uma flor em cima das lápides com nossos nomes.

sou o filho que morreu no útero.

sou o verdadeiro significado dessas linhas.

sou a dor, a morte, o fim, o suspiro, o cigarro que se apagou e todas as estrelas que sumiram.

sou a previsibilidade dos meus assuntos comentados.

sou a covardia que me impede de terminar com isso tudo.

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