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2 min readAug 16, 2023

como eu deveria lidar com minhas infalíveis descrenças?

quando o ronco do meu estômago me avisa horas antes que a nota mi do piano foi tocada mais uma vez.

onde até o piscar dos meus olhos em frente a qualquer luz cintilante me informam o próximo passo dessa dança.

a qual nossos pés nunca se perderam em meio ao ritmo soturno e nossas mãos caminharam pelos nossos corpos arranhando e arrancando o resto de carne que existia, mês após mês.

espiral eterna que arrancou o esmalte de meus dentes e o equilíbrio de minhas pernas, pintou suas unhas de vermelho e fez meus ossos brilharem ao se depararem com a luz solar.

e cá estou eu, tocando um violão entre as cinzas do meu quarto, ditando a música que eu gostaria de ouvir, mas tendo que tragar uma sequência de acordes dissonantes e ardentes que viriam de sua boca, porém de forma quase que patética e depreciativa, esperando o próximo passo de nossa dança.

parte de mim acreditou que o processo foi simplificado desde a última vez que você enfiou uma faca em minha jugular. outra, me convenceu que a facada havia sido apenas uma, e que o corte foi aberto e reaberto por mim diversas vezes, apenas para sentir o gosto metálico do sangue.

de qualquer maneira, de forma quase que doentia, esses mesmos órgãos feridos foram os responsáveis de me avisar horas antes que o pior estava por vir. neutralizaram os músculos de meu rosto e me obrigaram a tentar chorar porém sem o benefício e o alívio das lágrimas.

me pergunto, quando será o próximo passo de nossa dança, ou se finalmente a nota mi desse piano poderá descansar.

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