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1 min readDec 21, 2024

você me ensinou a
não matar formigas e
aranhas

a cada estralar da tampa
do esgoto que está ora
meia solta e meia
encaixada

por conta dos carros
que passam por cima
dela

eu lembro disso:
você me ensinou a
não matar formigas
e aranhas

coleciono recortes das
luzes que enfeitam a
cidade

palmeiras
prédios
janelas
postes

letreiros
outdoors
holofotes
faróis

em época de natal
elas ficam mais fortes

e os piscas-piscas fazem
companhia a elas

representando assim
a felicidade inteira de
uma só nação

você me ensinou a
não matar formigas e
aranhas

e junto disso seu rosto se
esconde no fazer dessas luzes

sendo assim uma lenda urbana
própria

uma crônica a qual nunca houve
final escrito por mim

apenas por você

um ditado que só é repetido
por uma só língua

talvez seja por isso que
eu escreva sempre sobre
as luzes

a dúvida de seus olhos ameaçam
se revelar por detrás de todas elas

apenas, a incerteza de seu olhar
a possibilidade, a chance

e junto com ela, as luzes

mais uma vez
a tampa ora meia
aberta, ora meia
fechada

estrala com o
passar dos carros

e eu lembro uma
última vez que

você me ensinou a não
matar formigas e aranhas

eu olho ao lado e vejo o corpo
enrugado da formiga que matei
sendo carregado por outra

enquanto uma luz inofensiva
ilumina a cena.

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