mais cedo me
falaram "comecei a
escrever e queria que
lesse um poema meu"
li e pedi que
me mostrasse mais
vezes para que eu
acompanhasse
sua transformação de
criança para ego puro;
de escritores a
terra já está cheia
minha narina esquerda
apitou e chiou
assim como a minha
cabeça, o dia todo
meu pé está calejado
como uma recordação
do grand finale
mal consigo andar
meu corpo desmonta
perdi algum peso e
meu rosto está chupado
e os olhos amarelados
toda vez que respirava
e meu peito apertava
olhava ao redor e via
os sorrisos de cada um
vívidos e pontuando
lembranças importantes
de cada alma presente
naqueles bancos
eram quadros de
suas próprias vidas
e seus egoísmos
fragmentos de
amores-próprios e
auto cuidado
coisa que não se
encontra em minha pele
me despeço e me saio
exausto
não - somente - deles
mas da grama artificial
e também das telas
luminosas e retangulares
e dos poemas
encomendados
e das ruivas e
das loiras e
das morenas
também
e das palavras com p
que confundo por l
e do campus ondina
e das visitas e
dos ex amores
e seus atuais amores
e dos meus vexames
e dos calos nos pés
dos sotaques e dos
redemoinhos e
das estampas
de camisas batidas
e das promessas
antigas e vazias
da esperança
já conhecida
das rimas e
das aposta
do sexismo
e do isolamento
mais cedo me
falaram "comecei a
escrever e queria que
lesse um poema meu"
pensei "é apenas
uma criança"
mais tarde então
me sentei
em um banheiro
escuro e silencioso
comi jujubas, quieto
e passei a escrever
pois de escritores
a terra já está cheia