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2 min readOct 22, 2024

mais cedo me
falaram "comecei a
escrever e queria que
lesse um poema meu"

li e pedi que
me mostrasse mais
vezes para que eu
acompanhasse

sua transformação de
criança para ego puro;
de escritores a
terra já está cheia

minha narina esquerda
apitou e chiou
assim como a minha
cabeça, o dia todo

meu pé está calejado
como uma recordação
do grand finale
mal consigo andar

meu corpo desmonta
perdi algum peso e
meu rosto está chupado
e os olhos amarelados

toda vez que respirava
e meu peito apertava
olhava ao redor e via
os sorrisos de cada um

vívidos e pontuando
lembranças importantes
de cada alma presente
naqueles bancos

eram quadros de
suas próprias vidas
e seus egoísmos
fragmentos de

amores-próprios e
auto cuidado
coisa que não se
encontra em minha pele

me despeço e me saio
exausto
não - somente - deles
mas da grama artificial

e também das telas
luminosas e retangulares
e dos poemas
encomendados

e das ruivas e
das loiras e
das morenas
também

e das palavras com p
que confundo por l
e do campus ondina
e das visitas e

dos ex amores
e seus atuais amores
e dos meus vexames
e dos calos nos pés

dos sotaques e dos
redemoinhos e
das estampas
de camisas batidas

e das promessas
antigas e vazias
da esperança
já conhecida

das rimas e
das aposta
do sexismo
e do isolamento

mais cedo me
falaram "comecei a
escrever e queria que
lesse um poema meu"

pensei "é apenas
uma criança"
mais tarde então
me sentei

em um banheiro
escuro e silencioso
comi jujubas, quieto
e passei a escrever

pois de escritores
a terra já está cheia

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