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1 min readSep 28, 2024

é sábado — mais uma vez

sinto um cheiro diferente no sofá

não é o meu, e sim um perfume

minha cabeça dói

não consigo reconhecer de quem é o perfume

cheira a mentira

cheira a ventania

cheira a covardia

cheira a crueldade

fede a insensibilidade

fede a lágrimas

os pintos piam lá fora

de forma insuportável

como crianças que choram

em berços retrógrados

o sol julga a todos as onze da manhã

inclusive a mim

volto a sentir o cheiro

começo a me perguntar

se é o meu ou se é o seu

são semelhantes, quase iguais

a garrafa de vinho permanece no mesmo lugar

o violão permanece no mesmo lugar

os cigarros queimam no mesmo lugar

o meu corpo sua no mesmo lugar

meus pêlos caem no mesmo lugar

as louças se acumulam no mesmo lugar

os acontecimentos se repetem e acabam no mesmo lugar

nesse lugar, nesse cheiro

nesse texto mal feito

nesse poema feio

nessa sala abafada

inundada pela fumaça

em pleno sábado

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