sua voz quase trêmula
e abafada
e os seus olhos
de vidro
sua pele branca queimada
e as pintas
em toda sua face
e a gola alta branca que vestia
foi o necessário para que
entendesse sua derrota.
perdeu no momento em
que passou pela minha porta
e sentada de pernas cruzadas
apenas de meias (iguais e limpas)
bebericava a cerveja como um
beija-flor preguiçoso e relaxado
se preocupava com meus cigarros
e a velocidade que eram dizimados
com a agressividade de meus lábios
e fazia tudo isso feito uma mulher
mas era apenas uma menina
tinha dedos de menina
uma cintura fina (de menina)
e o mesmo desespero de
todas as meninas
seu corpo magro, frágil
continha todo sangue
carmesim, transparente e fraco
de um coração partido
e no meu espelho mora um vampiro
que esperava por você
depois que minha perna
encontrou a sua por
pedido e único seu
entendi minha derrota
percebi que perdi no momento em que
passou pela minha porta
todas as suas palavras
de sua boca macia e
levemente rosada
foram fracas
não tiveram interesse
em se realizar
assim como as frases
nunca tinham finais
e quando minha ira era o suficiente
perguntava para você sobre
as pirâmides, o sol, os trens
wall street, hong kong, as três marias
os museus, e sobre as galáxias
e sobre os presidentes e
cartões de crédito, cães, gatos
mães, pais e se queria ter filhos
você ficava calada e apenas
abria sua boca para ter minha
língua áspera, para gemer ou
comentar minha arrogância costumeira
e nua se olhando no espelho me dizia
"gêmeos é assim, não para de falar"
eu perguntava então
sobre os signos também
e você me respondia
"prefiro não dizer"
então foi embora em seus passos
leves e discretos
quase que inexistentes
desprezando todo solo ao redor
e assim durmo tranquilo. sem você preferir dizer