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3 min readOct 2, 2024

o dia sempre termina

preso em uma espécie de

otimismo irracional

onde as declarações de amor

tão distantes, voltam a me

visitar

e os beijos da mesma família

ainda são quadros recém pintados

onde quatro cervejas, justificadas

conquistadas — feito garotas

de outras cidades;

sendo que a primeira

lhe satisfaz e diz “eu te amo

e eu nunca vou te abandonar”

e a segunda te decepciona e te abandona

a terceira lhe quebra suas pernas

e a quarta te faz desistir de continuar —

e o cigarro que acabei fumando

sem querer, após ter

virado ao contrário em

minha carteira

se tornam parte da história

de uma sede que se apoia

no otimismo irracional

no desejo cego, vil

jovial e indecente, mas

ainda sim tão inocente

de perder a virgindade

com alguém que não vale a pena

tudo isso me torna

um menino em febre com seu

primeiro amor

uma estrela que se fragmenta

aos poucos

mas lampeja ao se despedaçar

no vácuo eterno

um corpo que perde sua forma

e encontra descanso

no sofá e na escuridão

de seus próprios olhos fechados

ou uma dor na bochecha

que atesta a fumaça do cigarro

enrigecendo meu muco

e quebrando meus vasos

em toda comicidade

que existe no cuspir sangue

em toda alegria de

sorrir bem, bem vermelho

pra você

me torno tudo isso e mais um

pouco, normalmente entre

dez da noite e uma da manhã

então, o dia sempre começa

tumultuado por uma neblina

ou escandaloso por uma cortina

de puro ouro do sol, pura luz

cruel que invade minha janela e

grita e berra as notícias do dia

ironizando, enquanto me dá a

certeza plena que amanhã estará

aqui de novo

junto com tudo e todos

as mesmas palavras, os mesmos

personagens dessa história

as mesmas salas, as mesmas

portas, calcinhas, distâncias

desgraças, tragédias planejadas

e intencionadas, as quais nunca

poderiam ser tragédias, nunca

maldades, justiças e os mesmos

homens que vivem em

condomínios, e dirigem

carros elétricos e persistem

em chutar o gato que

mia após ter morrido pela

sétima e última vez

os mesmos brindes

pelas mesmas mulheres

que continuaram

por séculos

insensíveis e sem brilho

nos olhos, por mais que

seus egos afirmassem

o contrário disso

e tudo isso que me pesa

me obriga a me arrastar

a continuar a beber água

e tomar banho, consegue

me transformar numa espécie

de criatura amorfa

que — por insistência — se metamorfoseou

nas pequenas e grandes

coisas/eventos do passado

um monolito de carne

que projeta os dias

e meses

e anos

anteriores, que se passaram —

e agora persistem em

repetir nos outros

sorrisos de dentes

bem, bem brancos —

enquanto enxerga toda

a estupidez presa

nas gargalhadas, reuniões

de sábado, sexo casual

pernas que se abraçam

debaixo de mesas

e mães que amam

suas filhas e seus

maridos

meu olhar no espelho

apenas confirma que

com toda certeza é entre

seis e onze da manhã

após a tarde ir embora

acendo um cigarro e

posso até chorar pensando

no que eu queria, no que

seria ou teria

mas ainda sei que

vou enxergar amor em pintas

perto de bocas vermelhas

mas

sei também que quando

o sol repetir seu ritual incansável

vou enxergar ódio em

sinais de nascença na

sua pele branca, presa

nas lembranças onde

você está nua

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