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3 min readDec 31, 2023

Alpheratz.

Eu ainda tenho embrulhos no meu estômago quando parte de minha mente viaja a sua boca. Parte de mim estremece quando vejo você viajar no céu, a outra desacredita que aquele feixe seja real. O pânico me domina de uma forma tão silenciosa, um breve desvio de olhar é o suficiente, mas o seus olhos, seu sorriso gatuno e a cor de seu rastro ainda distorcem minha mente por horas a fio. Os sinos bateram pela última vez nessa noite e a galáxia de Andrômeda nunca esteve tão escura. Meu peito persiste em se regenerar cada vez que você arranca um pedaço dele para si. Como uma viagem no tempo, revivo todas as etapas de sobreviver ao frio congelante. No fim, não há nada de novo, é o fim, pela quinquagésima vez. Explorei todos os quatro cantos dessa galáxia e não te encontrei. Independente de onde você esteja, eu não irei te encontrar. Alpheratz, seu brilho intenso me cegou para sempre. Torturado pela imensidão de seus feixes, condenado a enxergar o nada. Eu ainda tenho embrulhos no estômago, como a primeira vez. Uma hora eles irão parar, um dia você não irá me cegar mais. Sua luz incessante e branca sempre voltou e inundou a minha retina com sua claridade metálica. Brilhante, como uma iluminação hospitalar, você não irá voltar desta vez. As estrelas de Andrômeda se apagam.

Betelgeuse.

Personificação da rejeição, com seus olhos atentos pelo céu mais distante e frio flagra as vidas dos terrestres, as quais admira e escreve sobre. Nunca foi o astro preferido de ninguém, mas esteve lá. De alguma forma, olhei para você e vi parte de mim em ti, de forma que minha pele ainda estava queimada por uma discórdia recente, uma vez que meu cotidiano era chorar lágrimas de sangue. Seu brilho é terroso, sua cor é bege e seus feixes poucos enxergam. Vi o tempo passar por mim e arrancar meu eixo, enquanto isso, desprezei a tinta que existia em Betelgeuse, recusei seu brilho negativo, rejeitei sem pensar duas vezes. Queimei a carne desse ser como a minha foi queimada recentemente. Queimei de forma brutal, instantânea, sem cogitar.

Sirius.

Em outra galáxia mais real e menos lúdica você sempre esteve, um lugar onde seria impossível não te ver. Seu brilho é o suficiente para gerar outras estrelas e astros, os quais não me cegam, nunca me cegaram. Agora, emite uma sequência de luzes tão reconhecíveis, quase natalinas, que me afirmam “eu não pertenço aqui”. Parece tão belo e genuíno, altruísta e gentil, de cor pastel e ameno, feixes que giram ao redor de um eixo imaginário em direção a mim. Os quais eu não mereço, os quais não me pertencem, os quais eu almejo como se fosse a vida eterna para um pecador. Destacável entre toda a Via Láctea, é impossível não sentir você, é inevitável sua chegada. Sirius, não seria por falta de vontade me entorpecer em sua cor, não seria uma escolha minha. Ao menos, me pergunto se sua luz é real. Coloco meu corpo em teste de fogo estelar para ter essa resposta.

PSR J1748-2446ad

Bom, e agora? A distância e a velocidade são o suficiente para te afirmar que o fim e o começo são extremamente parecidos, exatamente como o universo ou a música “Meu Amigo Pedro” do Raul Seixas. Dito isso, como lidar diante dessas cores de plástico falsas? Diante desse espelho fosco que não reflete nenhum brilho, com exceção daquele que é forte o suficiente para o quebrar? Sua prepotência é sua santa e o amor é o seu diabo. Lide com isso. A decepção e a saudades, a rejeição e a identificação, a paranóia e a justiça, a felicidade e a tristeza, todas elas são irmãs. Todas as estrelas brilham de forma diferente, uma mais forte, outras agressivas, outras mais coloridas, mas você, você é uma estrela de nêutron fosca e falha.

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