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1 min readJan 20, 2025

hoje eu perdi dois ônibus
por um cigarro
de filtro branco

me sentei no
concreto e
pensei
"porra, eu
não sou

um garoto."

acabei de voltar
do meu primeiro
dia de trabalho

passei no bueiro
atrás dos ratos
e os
encontrei

eles alegraram
minha noite

desci as passarelas
um bêbado reconheceu
a minha jaqueta

"é o verme, né não?"
"é, é sim"
"eu conheço ele"
"eu também"

esse bêbado comprou
um cigarro para mim

eu perdi meu ônibus
dois dele

eu pensei então
porra, eu não sou
mais um garoto.

essa terra poderia
ser minha

se tivesse dezoito
de novo

se tivesse ainda
aquele mesmo
fôlego

só se eu fosse
novamente
garoto

se eu ainda
fosse

aquele maxilar
esculpido
em rosto

se eu tivesse
o mesmo
esforço

em abaixas
calcinhas
e conquistar
ouro

se eu estivesse
no mesmo
poço

que me formou
um homem
morto

mas que me
afiava como
uma lâmina
em couro

se eu fosse
o mesmo
garoto

eu inundaria
rostos

sequestraria
sorrisos
e calaria os
loiros

de sorriso
claro
olhos azuis

e com aquele
fôlego de
garoto

hoje a
cidade me
tem como
filho bastardo

os bueiros se
tornam
solitários

e fervem ao
meu caminhar

e ao meu
deitar em
que me
despeço

penso que
durmo com
fome

e com a
incerteza do
que vou comer
amanhã

mas os ratos
sempre estarão
em minha espera
e eles

me recebem.

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