os homens que
cortam seus
corpos e rostos
de maneiras iguais
as mulheres que
vestem sonhos e
desesperos no lugar
de suas calcinhas
e as crianças que
são espelhos da
ruindade de seus
próprios pais
e os pais que
são cadáveres
de uma geração
inteira
é um plano círculo
processo cíclico
tudo que existe
persiste em repetir-se
e as putas francesas
por mais francesas
que sejam, no fim
são apenas europeias
e as garrafas de cachaça
de vidro perfeito e
bem apresentadas
são apenas devaneios
os cigarros e os
analgésicos são
tampas para um peito
aberto e visceral
assim como os poemas
são palavras enfileiradas
e mal organizadas
estampadas por
um significado preguiçoso.
mas no fim de tudo
olho ao redor e percebo
que quero tudo e
mais um pouco
talvez queira ir para frança
e comer uma puta francesa
talvez queira beber uma dose
e dizimar carteiras
talvez conquiste o mundo
e seja publicado
talvez mereça deitar
e ser escutado
e talvez meus amigos
tenham razão
sou o melhor escritor
de toda a geração
talvez deva usar uma
coroa de espinhos
e chorar com a morte
de meu primeiro filho
e talvez deva derramar
meu sangue para mover
terras e paraísos
para finalmente morrer
talvez deva sim
escrever sobre uma loira
mesmo sabendo que
nunca irá ler nada da coisa
olho ao redor e percebo
nas árvores e arbustos
e flores vermelhas
vejo pálidos bustos
vestidos de preto e
tomadas por desespero
o mesmo que nas outras
eu continuo vendo
em todas as florestas
consigo ver uma luz
onde vejo um mundo
um mundo inteiro
tomado por inúmeras mariposas.