existia um homem
que beirava um mito
que domava a raiva
e se sentia vivo
era a própria conquista
e transbordava desejo
via um rei de pele preta
quando se olhava no espelho
e em suas veias vermelhas
corria enxofre
encarava qualquer demônio
do tamanho que fosse
seu sangue em sua orelha
era uma obra intocável
seu brinco prateado
um detalhe inevitável
respondia pelo seu ego
e pelo seu temperamento
de forma que nunca havia
alguém maior em seu tempo
era o tipo de homem que
você desejava ser o cigarro
que ele colocava lentamente
entre seus escuros lábios
era o tipo de homem que
você sentia o misto
entre pavor, medo
amor e cristo
era o tipo de homem que
você mataria para
sentir mais uma vez o cheiro
de sua jaqueta prateada
e quando ele te olhasse
no fundo dos seus olhos
você veria um mundo inteiro
caído por ódio
sentimentos que geravam
um claro respeito
a figura que lhe oferecia
para te consolar, o seu peito
era a alma reativa
controladora, assustadora
que se tornou uma sombra
de uma rastejante cobra
era o homem maxilar diamante
que te paralisaria sem tentar
o sol que reinava os céus
e insistia em todos os dias brilhar
existia um homem que
não suportou a falta da lua
das noites escuras
das curtas ruas
e que não suportou a ideia
de ser ele mesmo
não aguentou a dor
de sustentar seu medo
não aguentou carregar
toda expectativa de ser
aquele que prometeu
em ser
um homem que tinha
uma terrível doença
a nefasta e dolorosa
esperança, crença
que o consumiu
feito uma lepra
corroeu sua alma
e arrancou suas pernas
e agora o que lhe resta?
apenas lembranças de um homem morto.