like spinning plates

h
3 min readJun 24, 2024

--

hoje me perguntaram sobre meus poemas e textos. eu respondi que estava passando por algum tipo de bloqueio, ou algo do tipo. assim como também julguei as últimas coisas que escrevi como ruim ou de baixa qualidade.

depois, fui convidado para um encontro em família. o qual eu fui e pela primeira vez, tentei aproveitar o momento com eles.

saí mais cedo, como de costume, peguei o caminho normal para casa e durante o caminho, eu percebia com o tempo e pelos festejos que era são joão, finalmente.

inevitavelmente, minha mente e meu humor se acamou. de uma forma triste, eu deitei no escuro e esperei meu gato de cor branca subir em cima de mim.

ao acontecer, percebi que não sou o que um dia já fui.

que não sei o que eu quero, não sei o que eu preciso.

que o que eu precisava, eu rejeitei.

ou o que eu não quis, eu quero hoje, de forma apática.

que aqui só restou um punhado de memórias fracas e feixes de luzes.

reflexos de uma balada gigantesca que hoje não me dizem nada, além de pontos ocasionais durante o dia.

pontos que me amargam a boca ao perceber que acabou.

ao deitar eu me perguntei o que me preencheria novamente, depois de muito tempo tentando.

depois de olhar por todas as fechaduras de todas as portas, mas não conseguir abrir nenhuma.

depois de viver em uma mansão que vivia o tempo todo incendiada.

percebi o quanto eu odeio viver dessa maneira, lembrando, chorando aos cantos, deprimido ou até mesmo, fumando, jogando, andando, respirando.

como cada detalhe de minha pessoa começa a se tornar um soldado nesse exército contra mim.

como cada palavra de meu texto começa a se tornar incoerente e toda parte crítica do meu cérebro começa a odiar tudo o que eu passo a tentar criar.

como não consigo tirar certos olhos, sorrisos de minha cabeça.

e como também, percebi que nunca foi exatamente sobre o sorriso em si, mas sobre o ato de ver se formar. como sempre prestei atenção, aos poucos, um rosto neutro contraindo os músculos necessários para formar um sorriso.

como isso perdeu o valor tão rápido.

tudo que eu escrevo é um flagelo, é um tormento. essa é a verdade, é uma obrigação, é uma luta incansável. meus poemas poucas vezes foram usados para embelezar uma pessoa.

meus textos, poucas vezes foram molduras para sorrisos e olhares.

eles são diabos incansáveis que me perseguem até ganharem vida, até ganharem forma, até ganharem potência.

e percebe-se, diante a estrutura desse mesmo, diante o contexto desse mesmo, diante até mesmo das palavras.

que eu não faço ideia do que eu estou lutando contra.

mas continuei pensando, antes desse devaneio, que é como andar em uma corda bamba vivendo o risco eterno de cair para um lado ou para o outro.

em um, existe o ruído da cidade, o desespero cotidiano, a lama mundana de prazer, a busca de satisfação e realização, a objetividade metálica.

em outro, existe a melancolia perversa banhada de memórias tão amenas e cheirosas que te convencem que um dia, sim, um dia foi melhor, a sensação que o amor curaria tudo isso, ou que minha pele um dia foi melhor tratada; que meus lábios foram menos secos.

a medida que meu quarto é tomado por fumaça e meu corpo é preenchido pelo vazio, eu percebo que é como pratos girando eternamente

prestes a cair.

--

--

h
h

No responses yet