Eu vou tentar ser melhor, prometo.

Juro que lavo os pratos depois do almoço.

Mesmo você pedindo pra não fazer isso pois não é necessário.

Juro que vou ficar longe do álcool e do cigarro.

Que vou ser um bom filho e um bom namorado.

Que vou respeitar sua presença e elogiar sua comida.

Responder suas perguntas e cuidar de minhas feridas.

Juro que vou tentar melhorar, mãe.

Prometo nunca mentir nem te decepcionar.

Eu quero você pra me escutar.

Sobre meu trabalho e sobre meus objetivos.

Sobre meu amor e meu peito ferido.

Mãe, eu sinto que você não me conhece, é o que parece.

Mas se conhecesse, não sei se iria gostar do que vê.

Eu me sinto cansado, como se fosse padecer.

Não gosto de chorar, você sabe, mas não consigo me ajudar.

Mãe, eu achei uma flor no caminho, achei que você fosse gostar.

Mas fiquei com vergonha de te dar.

Quero que seja sincera, mesmo se a verdade for como uma flecha.

Que perfura minha carne marcada.

Mas de tanto sangrar, não há nada que me estranhe.

Eu só queria de ti uma segunda chance.

Houve um dia que você reconheceu o meu valor.

Houve um tempo onde eu tolerava essa dor.

Lembro quando leram meu poema na sala.

Não sou o mesmo menino das mesmas falas passadas.

Pois estou marcado, e sangrando, como uma fonte infinita.

Hoje você tá tão bonita.

Mãe, deixa que eu carrego essas sacolas.

Deixa eu te ajudar a escolher frutas no mercado.

Você me ama mesmo ainda marcado?

Eu peço desculpas por tudo.

Em uma coisa talvez mantenha minha palavra.

Não voltarei a ser o mesmo bebê que saiu do hospital da Barra.