a manhã de outubro me dá boas vindas
o frio costeiro da cidade também
a luz solar sempre mais clara
atrapalham meu sono
minha quietude
me forçam a levantar, a me revoltar
não consigo, no entanto
apenas tenho um deque de lamentos
e um poema a escrever
enquanto tomo um café e
fumo um cigarro
preocupado como vou
comprar o próximo maço
penso em várias coisas
em karma, injustiça
documentos
fragmentos do passado
banhados de sangue
em desejar o mal
em você
e em outras pessoas
e todas suas formas
em seus olhares
em seus sorrisos
em suas mãos
e pintas, sinais
e rugas
e dentes
penso em vestidos azuis
morcegos com raiva
risadas que servem de vírgula
o bom humor feminino
ônibus, passagens, trens
a cidade inteira de salvador
presa em um cubículo
em um quadro em chamas
gente nova, gente bonita
iemanjá, som do mar
ondina e toda sua melancolia
não me deixo enganar
todas essas coisas não estão aqui