eu passo o dia observando a maneira que o letreiro bate e volta nos cantos de minha tevê.
escrevo alguns poemas mal feitos tentando expressar o inexplicável e o absurdo, assim como também o comum e já esperado.
lembro de quando bebia todos os dias e sinto um frio na barriga acompanhado de um arrepio que corre das pernas até a nuca.
as garrafas de vodka se acumulavam aos cantos de minha cozinha, as noites eram nubladas e rápidas como transas tão efêmeras e insignificantes.
as latas de cerveja serviam de decoração para um local já abandonado de espírito pertubado e carne apodrecida.
meus olhos hoje são acessos inexplorados para o homem que realmente sou. ou a metade dele.
afinal, ele está em todos os lugares e em algumas pessoas.
ao norte da cidade, nas peles de outros homens, nos dentes de sorrisos tortos, nas estrelas e nebulosas de andrômeda.
o mundo vai a todo vapor lá fora. os espelhos continuam presos nas paredes esperando o meu primeiro vacilo. as nebulosas de andrômeda continuam vermelhas. as peles dos outros homens continuam quentes e os sorrisos tortos persistem em negar uma linha reta.
a luz esbranquiçada de um poste invade sem nenhum tipo de remorso toda minha sala e no céu da orla não contém nenhuma constelação para me recordar uma antiga história.
mas tudo bem.
o letreiro na tevê continua encontrando os cantos.