e ele tinha um nariz longo e cabelo preto
pele branca e olhos negros
ele vestia uma camisa social xadrez
e me dizia “menino, tu é fera bicho, o que que tu fez?”
também me ofereceu um trato
“senta aí, você vai longe, pega um cigarro”
me contou sobre sua vida, quem era, sobre os feitos
e do lado dele tinha um viciado feio
um viciado em dor, em o servir, em viver e morrer
morrer diversas vezes apenas pra ressuscitar e assim ter o seu prazer
olhei pra dentro do meu ego até sentir
sentir sono o suficiente pra dormir
no inferno, em seu sofá, enquanto ele desenhava meu futuro
diabo, capeta, satanás, cometa, cometa que virou o turno
que virou o futuro, que previu o passado, que acorrentou o presente
que marcou minha pele, que apodreceu meu dente
e minha gengiva, de forma tortuosa pálida…
esqueci a palavra
dormente, lembrei
doendo por conta de quem eu deveria ser, e fui, eu sei
e ele olhou pra mim e passou a falar
“você sabe escrever? você sabe cantar?”
e assim como jesus no alto, o diabo passou a o testar
com seus dentes enfileirados e sua língua ligeira, passou a citar:
“eu te darei todo este poder e toda a sua glória”
“porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem eu quiser"
apenas venda sua honra, projeto, arte e te darei todas suas preces
“o que você quer? lhe entrego tudo, dinheiro, morte, álcool, vida, drogas, cheques.”
neguei educadamente e tive um debate naquele quarto
no fim de tudo, esqueci que estava falando com o diabo
esqueci também que não era mais tão puro quanto achava
e me doeu quando senti que ele tinha roubado minha alma
não foi como um sim em vão
foi um digno aperto de mão
que me dizia bem claro “você se perdeu”
e agora ele me encarava e dizia “seu corpo, é meu.”
e mesmo morrendo aos poucos, é esquisito
apenas tendo o toque quente é que me sinto vivo
já usei esse verso em outro poema
mas sabe, nos negócios, é o mesmo tipo de esquema