com o que você se parece quando está nua?
seu corpo ainda permanece o mesmo?
você ainda tem o mesmo padrão de pelos?
eu deveria comer sua carne crua
[…]
duvido que tenha o mesmo cheiro de antes
também, houve novos toques e novas bocas
como foi ter outras pessoas para tirar sua roupa?
em um quarto de desejos errantes
[…]
mas tudo bem, você é outra pessoa hoje
de forma que, nada mais justo que seu corpo perder a cor
dentro dessa peça não existir mais amor
pelas máscaras, figurinos e atores
[…]
quando você ficou nua pra mim e sorriu com nenhum dos dentes tortos
em um quarto gelado, submerso de mágoa e desesperançoso
eu entendi a sensação de ter uma navalha no pescoço
então a noite finalmente pôde abrir meus olhos
[…]
seu corpo conseguiu fazer amor com outra pessoa
mas nunca conseguiria fazer guerra
como fez comigo por noites diversas
eu não tirei, eu queimei suas roupas
[…]
eu te vejo nua da forma mais crua
que uma pessoa na frente da outra pode estar
eu descasco sua pele, eu arranco seus cílios, te faço gritar
e apenas com meu olhar você sente o gélido sopro de ir pra rua
[…]
e não ter ninguém mais
e apenas me ter
e ter que negar ser blasé
por sentir muito mais do que é capaz
[…]
e sempre hei de pairar
aquela dúvida que persiste sempre
a afirmação mais insistente, o medo mais presente
“vamos recomeçar, tenho medo de você me deixar”
[…]
eu espero que dentro dessa sua cabeça, você não fique a pensar
não tenha grandes expectativas
não tenha nenhuma ideia de vida
não vamos vingar
[…]
estamos fadados a isso, ao recomeço
ao término, a falha, a dor, ao nojo, a violência, ao desespero
ao feio, ao escroto, ao morto, ao medo
e de novo, o recomeço
[…]
até que exista o “eu te odeio”
ou pior, o cinza, o absoluto silêncio
a indiferença do mesmo, a negação do branco no preto
eu não te odeio
[…]
eu gostaria de te amar
ou de passar por cima desse querer
ou apenas te esquecer
ou finalmente, deixar acabar
[…]
mas não, eu sou cruel, eu sou ruim
eu sou o que eu decidi de justiça
eu sou o pecado e o perdão, o pai e a filha
eu vou pro inferno pelo o que eu desejo no fim
[…]
eu sei muito bem como você se parece quando está nua