Não minta para mim.

h
3 min readMar 29, 2023

--

Em um banco numa estação de metrô, havia um homem sentado, ao redor deles, fotógrafos e jornalistas. Sua cabeça, estava toda enfaixada, seu rosto coberto por gazes brancas. Ele grita:

Olhem, vejam, o que eles fizeram comigo. Me espancaram, arrebentaram meus dentes, meus olhos sangram, estou quase me engasgando com meu sangue! Deus é testemunha!

Logo, os jornalistas como abutres o cercam com flashes e cliques por todo o lado. Pedem para desenfaixar essa bandagem, e assim ele faz. Aos poucos, os jornalistas percebem que sua face estava em perfeita condição. Não havia uma mancha de sangue, muito menos um arranhão, lhe tinha todos os dentes. Ele cala.

Um réptil se arrasta por grama, gravetos e terra, checando tudo ao seu redor com sua língua roxa, não lhe há patas. O rastro de sangue causado pelos ferimentos em decorrência do atrito tem um terrível mal cheiro. Ele está em aflição, consternação, sofrimento. Não conseguia enxergar o céu, nem sabia da existência dele, apenas foi lhe permitido olhar para frente. Em dor, ele clama:

Deus, termine meu sofrimento, eu te clamo, em minha vida não há alegria, não observo jubilo, contentamento, sofro desde que nasci e existo. Ceife-me.

Deus o ouviu. Ele costumava a falar com Deus com frequência. Então, o entregou uma nova pele. Sem dor, sem sangue, sem mal cheiro, sem rastro. Nova, resistente. Ele continuou seu caminho em lágrimas, insatisfeito. Porém, continuou.

Em uma mansão na França, um baile transcorre, nobres bem vestidos e elegantes dançam lentamente a uma sinfonia erudita. Uma venusta mulher entra em cena, seus lábios caem de uma forma pessimista para os lados. Sofre pressão do pai para casar.

Dieu, s’il te plaît, guide-moi vers un homme décent.

Então, um homem alto e com medalhas aproxima-se dela erguendo sua mão, a convidando para um movimento. Ela aceita. Todos os homens estão mascarados, todas as mulheres também. Ela chora e suas lágrimas secam no tecido da máscara. Não percebem seu choro.

Um pescador vive uma tarde tranquila em um porto. O sol está se pondo, a temperatura, confortável, ele está em paz. A chegada de um corvo o surpreende e ele repete com aquela voz rouca:

O diabo tentou Jesus pela segunda vez.

O pescador fica sem entender, o pássaro o encara sem mover um músculo. E ele repete essa frase. O pescador o pergunta o que está acontecendo e ele responde.

Por favor, me tire desse corpo.

O pescador se assusta, e pergunta o que há de errado com o corvo.

Não faça isso, por favor.

O pescador paralisa. O corvo fala novamente:

Pedro negou Cristo três vezes.

O corvo voa.

14 de Nissan. Calvário. Jesus Cristo é crucificado. Pedro estava entre seus inimigos, e entre eles, uma criada olha e diz:

Ele estava com ele!

Pedro responde que não, que não conhece Jesus Cristo.

Pouco depois, um homem o viu e disse:

Você também é um deles.

Pedro nega mais uma vez. Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou:

Certamente este homem estava com ele, pois é galileu.

Então, antes de Pedro terminar sua frase de negação, o galo canta. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito:

Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes.

Pedro negou a Cristo.

Lincoln Mello

--

--

h
h

No responses yet