Minha carne é o meu inferno
Há buracos em meus braços em contato com o mundo
Meus dentes estão amarelados, frágeis, imundos
As feridas pelo meu rosto já não cicatrizam mais
Os insetos pousam buscando algum tipo de paz
Meu peito, aberto, cortado ao meio, apodrece em meio ao vento
A minha pele produz uma mortífera doença enquanto deito ao relento
Os pelos em minha face já são incontáveis, meu semblante é moribundo
O ar que volta retorna como um sangue, viscoso, emético, rubro
Atordoado me sento em meio ao canto das aves
Olho pra o mesmo horizonte, a fumaça do cigarro embeleza os ares
Atraio os olhares de piedade ao redor de mim
Nego a todos, nunca pedi para estar aqui
Meus ossos amarelados buscam alguma razão para crer
Mal me sustento de pé, perco a velocidade, sinto que vou ceder
Não formo mais frases como formava antes, as palavras perdem o sentido
Em meio a essa TV estática cinza, barulhenta, que vejo ao vivo
Consigo olhar o grande Diabo no meu espelho
Não atrás de mim, na frente, sem algum receio
O grande Diabo é como me nomeio, entrego sofrimento para meu corpo inteiro
Minha carne não é o meu inferno; minha mente é.
Minha carne são as almas perdidas em sofrimento que gritam por salvação e choram de medo.