Ele toca o piano numa sala vazia cheia de olhares mórbidos
Sua pupila, tão vermelha que sangra o branco
Os dedos trêmulos erram notas que formam pedidos de socorro sórdidos
Ele sabe que tem uma alma triste e vazia escondida no canto
Não há nada que me incomode mais do que esses olhos cansados
A lágrima que ocasionalmente ocorre de vir a beira por motivo algum
É a resposta a insignificância de ser esquecido e compor um ritmo cadenciado
Cada voz dessa mansão assombrada clama por ajuda, mas ele não atende nenhum
O porteiro do inferno submerso em negatividade clama:
“Bem vindo ao cotidiano então”
O choque silencioso de acordar todo dia sem propósito nenhum exclama
Um rápido brilho em seus olhos, cansados, marejados e vermelhos que exalta o “não”.
O desespero de uma mente engessada buscando prazer a cada beco
A dor das paredes estilhaçadas que vê maravilha e milagre no medo
O albedo da luz diabólica te julga mais uma vez ao abrir essa porta
E a morte te espreita, buscando a oportunidade de rasgar sua garganta
Rasgar sua garganta, rasgar sua garganta, rasgar sua garganta, ao meio
Ele perdeu o controle de novo e machucou as almas perdidas
Ele perdeu o ponto de novo e machucou sua mão, já ferida
Ele morreu mais uma vez, chegou ao inferno, queimou por séculos
E não deu um piu
Um ai
Um sai
Um nada.
São vários rostos refletidos por uma mesma retina
Que aplica a mesma cortina azul e fina na vida
Aplicando a morfina e dobrando a esquina
Caindo em infinito, buscando abrigo, lentamente esquecendo o que ele foi um dia
Ou pensou ser, por instantes dolorosos de orgulho
São vermes brilhosos que comem a sua garganta, que infectam a sua carne
Que acabam com o seu ânimo e brilho
São esses demônios que pesam seu peito toda noite antes de dormir
É esse exercício vazio, burro e inútil
É esse calor infernal
É essa dor na pele que não para
É a tolerância em excesso
É tudo, menos os olhos avermelhados do diabo.
Escrito no dia 18/01/2023, às 23:46.
