pinto quadros lindos com os meus olhos
alguma divindade perversa me doou
o poder de enxergar, mas me incapacitou ao
não conseguir expressar
eu escrevo os piores poemas em anos
na minha parede branca
como se um tumor atrofiasse minhas articulações
e secasse a tinta de minha boca
a fumaça no cinzeiro azul tem um senso de humor perverso
as listras vermelhas tem um senso de humor perverso
o tapete empoeirado tem um humor perverso
eu também tenho
é o purgatório
e eu me divirto entre risadas tímidas
sozinho e com poucas palavras
e aqui consigo finalmente
encontrar a pausa que tanto quis
sem você, sem ele, sem elas, sem eu
apenas um período no espaço-tempo cravado por uma sala
decorada com cuidado
iluminada e
bem ventilada