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2 min readOct 24, 2024

vou pra pausa
do cigarro

e chega um
conhecido meu

e começa a falar
sobre mulheres

segundo ele
achou o amor
da vida e

não está em mania

"é uma questão
de energia"

e eu respondo
"é. sei bem.
questão de
energia"

e ele questiona
sobre eu e
uma
mulher

e eu digo
"não estamos
ficando
mais"

e ele diz
"por que?"

e eu digo
"questão de
energia"

e ele me pergunta
como estou

respondo que
vou indo

e ele fecha
a cara então
e pergunta
"por que?"

eu respondo
"que opção
a gente tem?"

ficamos em
silêncio
então

o sol começa
a dourar as
paredes e
as fontes

é um terror
ao vivo e
as cores

um assassinato
natural
que repete
todos os dias

impossível de
se aguentar
tudo
isso

ele pergunta o que
aconteceu
nos últimos
dias

e eu respondo
"recaí"

e ele diz
"sério?"

e eu digo
"sim"

e agora eu e
o conhecido
estamos falando
sobre o uso de

cocaína

e ele
que tem a
idade de
jesus cristo

me aconselha a
treinar minha
mente para
que consiga

cheirar bem
ao ponto de
não me sentir
mal ou

quase morrer
cheirando

assim como
ele faz

pois cheira
todo dia

e levanta e
produz música e
trabalha e
cheira de novo

todo dia

eu respondo:
"entendo. mas eu parei.
parei mesmo até com
a bebida"

e ele diz
"é isso mesmo"

e eu respondo
"é isso mesmo"

e ficamos em
silêncio

então ele diz
"vou ali"

e eu digo
"tudo bem"

e uma mulher
com um terno
nas costas
surge

lá no fundo

apenas vejo sua
silhueta

e acendo outro
cigarro

e passo vinte
minutos me
torturando

pensando no sol
dourando as
paredes e
as fontes

e nos
assassinatos
diários

e nos
escritores

e nas putas

e nos cães e
nos mendigos
e no
catolicismo

e nas
cidades de
interior

e nas plantas e
nos pássaros
e nos bancos
e nos homens

e pensando
também nas
franjas de
meninas magras

e nas cinturas
e nas mãos
que se grudam
a outras

e nas
loiras e nas
que vestem
casacos roxos

e nas que
param de
te ligar ou
te mandar

lembranças

e nas que
são primas
das que te
ligavam

e mandavam
lembranças

e em meu
querido amigo
que diz que o
meu problema

é mulher

e eu respondo
"deve ser"

e ele responde
"com certeza é"

e penso também
no tempo que
passa

em meses
e anos
e séculos
e milênios

e penso
nos olhares
nos toques
e na boca

de uma pessoa
que nem
mulher
é

e que
nem me liga
ou
manda lembranças

ou pensa
mais
em mim

meu cadarço
desamarra

eu percebo então
que é hora
de voltar ao
trabalho

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