vou pra pausa
do cigarro
e chega um
conhecido meu
e começa a falar
sobre mulheres
segundo ele
achou o amor
da vida e
não está em mania
"é uma questão
de energia"
e eu respondo
"é. sei bem.
questão de
energia"
e ele questiona
sobre eu e
uma
mulher
e eu digo
"não estamos
ficando
mais"
e ele diz
"por que?"
e eu digo
"questão de
energia"
e ele me pergunta
como estou
respondo que
vou indo
e ele fecha
a cara então
e pergunta
"por que?"
eu respondo
"que opção
a gente tem?"
ficamos em
silêncio
então
o sol começa
a dourar as
paredes e
as fontes
é um terror
ao vivo e
as cores
um assassinato
natural
que repete
todos os dias
impossível de
se aguentar
tudo
isso
ele pergunta o que
aconteceu
nos últimos
dias
e eu respondo
"recaí"
e ele diz
"sério?"
e eu digo
"sim"
e agora eu e
o conhecido
estamos falando
sobre o uso de
cocaína
e ele
que tem a
idade de
jesus cristo
me aconselha a
treinar minha
mente para
que consiga
cheirar bem
ao ponto de
não me sentir
mal ou
quase morrer
cheirando
assim como
ele faz
pois cheira
todo dia
e levanta e
produz música e
trabalha e
cheira de novo
todo dia
eu respondo:
"entendo. mas eu parei.
parei mesmo até com
a bebida"
e ele diz
"é isso mesmo"
e eu respondo
"é isso mesmo"
e ficamos em
silêncio
então ele diz
"vou ali"
e eu digo
"tudo bem"
e uma mulher
com um terno
nas costas
surge
lá no fundo
apenas vejo sua
silhueta
e acendo outro
cigarro
e passo vinte
minutos me
torturando
pensando no sol
dourando as
paredes e
as fontes
e nos
assassinatos
diários
e nos
escritores
e nas putas
e nos cães e
nos mendigos
e no
catolicismo
e nas
cidades de
interior
e nas plantas e
nos pássaros
e nos bancos
e nos homens
e pensando
também nas
franjas de
meninas magras
e nas cinturas
e nas mãos
que se grudam
a outras
e nas
loiras e nas
que vestem
casacos roxos
e nas que
param de
te ligar ou
te mandar
lembranças
e nas que
são primas
das que te
ligavam
e mandavam
lembranças
e em meu
querido amigo
que diz que o
meu problema
é mulher
e eu respondo
"deve ser"
e ele responde
"com certeza é"
e penso também
no tempo que
passa
em meses
e anos
e séculos
e milênios
e penso
nos olhares
nos toques
e na boca
de uma pessoa
que nem
mulher
é
e que
nem me liga
ou
manda lembranças
ou pensa
mais
em mim
meu cadarço
desamarra
eu percebo então
que é hora
de voltar ao
trabalho