minha cabeça decepada
gira numa espiral sem fim
eu sinto o sangue escorrer
cada mililitro ainda quente
enquanto meu corpo deita
vejo o sangue correr
pelas minhas veias
que me aceleraram um dia
os olhos perdidos
indo pra lá e pra cá
um último olhar
um último suspiro
os céus se abrem
a luz me alcança
os anjos se curvam
honram minha ida
então acordo em casa
passo pelas paredes
brancas brutas paredes
refletem minha sede
de pé me olho no espelho
anjos de olhos negros
estão ao meu lado
eu não estou aqui
na clareza da noite
minhas pernas falham
impossível resistir
sinto meu sangue ferver
de novo, uma espiral sem fim
o sangue de meu pescoço
mancha nossa história
cada centímetro desse quadro
pequenos olhos sem fundo
pequenos dentes cintilantes
formam meu último sorriso
meu falso sorriso de plástico
pequenos olhos sem fim
tomados por uma ânsia
tão inocente, tão natural
pequenos olhos ímpios
minha voz falha
meus dedos não rimam
meu peito acelera
uma desordem clássica
causada pela falta
as estrelas descansam
enquanto pequenos olhos
viram para o futuro
pequenos olhos afogados
por sangue
pequenos olhos esquecidos
pelo tempo
pequenos olhos que me dizem
você não está aqui
essa não é sua história
esse não é seu lugar
então, dois anjos
de olhos negros
decepam minha cabeça
que gira numa espiral
sem fim.