Podre.

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1 min readFeb 1, 2022

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algo que já estava morto

acabou de morrer dentro de mim

de novo

e me pergunto o que farão

com minha alma

com o meu corpo

se igualmente a antes

irão me descartar

e me jogar ao porco

ou se podem ser mais criativos

e tentarem me esquartejar

ao ponto de caber em um estojo

só começo mais um dia

pensando na mesma coisa

“será que hoje eu não morro?”

me deparo com o meu peito aberto

meu coração bombeando

sangrando; causando nojo

por que?

por que devo sofrer isso?

por que sofro?

há de queimar o queimado

há de afogar o afogado

e há de arrancar nossa estranha e estofo

sangro, até o dia que não devo sangrar mais

morro, até o dia que não devo morrer mais

seja por viver ou por descansar em um caixão barroco

enfiaram-me em meio a terra

a parede cinzenta que flagra meu nome

a água ou ao verde esgoto

e de pescoço quebrado

olho esbugalhado

e braço torto

irreconhecível; o mesmo que dá lhe tira

apenas os dentes e os pelos sobraram

e sim, já estava a muito tempo morto

de dentro pra fora, totalmente em decomposição

minha alma e minha carne em um ciclo eterno de se tornar podre

todo dia, o dia todo.

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