algo que já estava morto
acabou de morrer dentro de mim
de novo
—
e me pergunto o que farão
com minha alma
com o meu corpo
—
se igualmente a antes
irão me descartar
e me jogar ao porco
—
ou se podem ser mais criativos
e tentarem me esquartejar
ao ponto de caber em um estojo
—
só começo mais um dia
pensando na mesma coisa
“será que hoje eu não morro?”
—
me deparo com o meu peito aberto
meu coração bombeando
sangrando; causando nojo
—
por que?
por que devo sofrer isso?
por que sofro?
—
há de queimar o queimado
há de afogar o afogado
e há de arrancar nossa estranha e estofo
—
sangro, até o dia que não devo sangrar mais
morro, até o dia que não devo morrer mais
seja por viver ou por descansar em um caixão barroco
—
enfiaram-me em meio a terra
a parede cinzenta que flagra meu nome
a água ou ao verde esgoto
—
e de pescoço quebrado
olho esbugalhado
e braço torto
—
irreconhecível; o mesmo que dá lhe tira
apenas os dentes e os pelos sobraram
e sim, já estava a muito tempo morto
—
de dentro pra fora, totalmente em decomposição
minha alma e minha carne em um ciclo eterno de se tornar podre
todo dia, o dia todo.