pílulas vermelhas tiraram meu sono
o inferno é o meu retorno
percebi que esqueci o seu gosto
percebi que houve esforço
não tão vermelhas quanto eu queria
nem tão fraco quanto eu merecia
mas chocante como água fria
linda como minha menina bonita
e o arrependimento é irmão do desejo
e o ódio é pai do despejo
o desejo é filho do ódio
a solidão é o diabo do propósito
e o desespero é o guia da falta
como posso curar minha alma?
sem o ouro, o sangue e a prata
que tinha no verde esmeralda da Ásia
pílulas vermelhas tiraram meu ego
e do meu sangue o ferro
me ajudaram com o tédio
enfiaram em meus pulsos pregos
em minha pele eu vejo o passado
em meus olhos vejo seu rastro
em minha carne percebo o estrago
em lágrimas eu me calo
pele preta de um homem morto
que canta sobre o amor tolo
que escreve sobre seu antigo porto
que agora se tornou um esgoto
quis tanto lembrar de seu gosto
que rasguei meu rosto
piorei meu nariz torto
meus olhos queimei com fogo
te quero tanto, mas tanto
que te perdi em meu encanto
passageiro, me vi em prantos
em busca de um só acalanto
pílulas vermelhas tiraram meu amor
e agora sou um arauto da dor
que ferve em tormento e pavor
buscando lembrar do calor
do seu calor, da nossa trama
do prazer, da nossa chama
você ainda me ama?
posso voltar pra nossa cama?
cansei de pílulas vermelhas
eu quero você inteira
devoto como uma freira
que em Deus se permeia
essas pílulas não funcionam mais
não me entregam euforia mais
e não me provem paz
como a mim você traz
preciso ser forte e tentar
mas não consigo parar de chorar
sou falho e me pego a pecar
pílulas vermelhas no seu lugar