quis escrever uma carta pra você
uma carta de despedidas
talvez até escreva
sou dramático suficiente pra isso
escrevo isso em movimento
mas me sinto parado como nunca
só você vive em meu pensamento
e parece nunca sair daqui
parece nunca querer sair daqui
existem diversas mulheres nessa cidade
loiras, morenas, altas, baixas
bonitas, feias, esbeltas e magras
choronas, quietas, bem vestidas
esperançosas, sorridentes
desinteressantes e previsíveis
elegantes, apressadas
cheias de cores ou não
prontas para contar algo
alguma história ou piada
gargalham, bebem, se calam
e repetem, sempre
trotam em frente ao mar
ou se sentam de pernas cruzadas
esperando alguém chegar
quando se levantam
fazem com a certeza
a certeza única de chegar
de estar em algum lugar
a certeza que só vocês tem
quando andam ficam travadas
travadas em seu próprio andar
no eixo de suas cinturas
vem e vão, atravessam ruas
usam elevadores, afiam facas
preparam pratos
confeccionam roupas
agarram suas bolsas
preparam drinks
alguma coisa com gin
preparam seus homens
para o inevitável fim
se deitam com seus amantes
choram e reclamam
reclamam sobre seus pais
sobre seus trabalhos
sobre seus saltos
as joanetes, os vestidos
se calam, e repetem
repetem sempre que podem
colecionam fotos
borram a maquiagem
enchem a boca de espaguete
mancham cigarros de vermelho
e tornam a repetir no dia seguinte
para uns, significam toda vida
para outros, a própria morte
para mim, não significam nada
ainda vou escrever a sua carta
algum dia — quando aceitar sua ida