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1 min readSep 19, 2024

quis escrever uma carta pra você

uma carta de despedidas

talvez até escreva

sou dramático suficiente pra isso

escrevo isso em movimento

mas me sinto parado como nunca

só você vive em meu pensamento

e parece nunca sair daqui

parece nunca querer sair daqui

existem diversas mulheres nessa cidade

loiras, morenas, altas, baixas

bonitas, feias, esbeltas e magras

choronas, quietas, bem vestidas

esperançosas, sorridentes

desinteressantes e previsíveis

elegantes, apressadas

cheias de cores ou não

prontas para contar algo

alguma história ou piada

gargalham, bebem, se calam

e repetem, sempre

trotam em frente ao mar

ou se sentam de pernas cruzadas

esperando alguém chegar

quando se levantam

fazem com a certeza

a certeza única de chegar

de estar em algum lugar

a certeza que só vocês tem

quando andam ficam travadas

travadas em seu próprio andar

no eixo de suas cinturas

vem e vão, atravessam ruas

usam elevadores, afiam facas

preparam pratos

confeccionam roupas

agarram suas bolsas

preparam drinks

alguma coisa com gin

preparam seus homens

para o inevitável fim

se deitam com seus amantes

choram e reclamam

reclamam sobre seus pais

sobre seus trabalhos

sobre seus saltos

as joanetes, os vestidos

se calam, e repetem

repetem sempre que podem

colecionam fotos

borram a maquiagem

enchem a boca de espaguete

mancham cigarros de vermelho

e tornam a repetir no dia seguinte

para uns, significam toda vida

para outros, a própria morte

para mim, não significam nada

ainda vou escrever a sua carta

algum dia — quando aceitar sua ida

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