as coisas simplesmente param
em um determinado momento
seu corpo decide não funcionar mais e
os beijos perdem saliva e os gemidos
saem apenas abafados
as peles se tornam tão pálidas ao ponto de
veias verdes ficarem roxas
os veículos percorrem seus caminhos de forma devagar
quase parando e
os travestis andam de cabeça baixa nas esquinas do imbui
as lentes das câmeras estiveram sujas e
faltou tinta para terminar os textos que quis escrever
sangue insistiu em escorrer de meus lábios toda manhã
não liguei, estive de pé até onde consegui
esperei e esperei e esperei em quartos
persisti esperar mais um pouco
em bancos, em praças, em salas, em batentes e calçada
mas nada veio
e algum desses dias você ao meu lado
me pediu, quase dormindo
“pode ler um poema seu? mas um feliz dessa vez, por favor”
tive que te decepcionar pela primeira de muitas vezes
é uma pena, essa cidade acabou comigo
e acabou com todos os pacientes que convulsionam em filas
novamente os filhos seriam espancados e seus braços quebrados
mas dessa vez suas mães não estariam lá para os salvar
o alfredo bureau me aprisiona novamente
é apenas o início do fim
com carne podre e alma distante derretendo em minha cama
olho pro seu corpo e pergunto
quem é você?