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1 min readOct 6, 2024

toda água do mundo esteve no nível de meus pés

e toda a água do meu corpo escorreu pelo meu rosto

arrastando contigo a funcionalidade e a praticidade

das coisas mais triviais do presente

como se fosse necessário nadar um oceano inteiro

para pular poças d’águas rasas

de um dia chuvoso

a água mancha os vidros e os espelhos

e não tem uma única coisa que eu possa fazer sobre isso

apenas olho os feixes de luzes que passam

e passam

e vão, chegam, passam

ainda lembro de quando conseguiria

pintar quadros com esses lampejos

costumava pegar estrelas com os dedos

e extrair brilho em papéis, em sons, em quadros, colagens, cortes e em tintas, na fumaça estampada em todo céu de toda a cidade e em manhãs de boca seca e mau hálito

hoje, não mais. como um anjo que perdeu suas asas

que costumava a voar por séculos em frenesi

sem nunca ter saído do solo

o que importava era apenas o vento que soprava em meu rosto

esses feixes impossíveis de manipular e as estrelas que foram roubadas de mim

apenas provocam um calor insuportável, tal qual o inferno

no entanto, ainda tenho forças para desejar que

toda essa água se torne em sangue

que todos esses anjos se tornem estátuas

que todos esses feixes se apaguem

e que todas essas estrelas morram junto comigo

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