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2 min readOct 30, 2024

as vezes
quando eu preciso
esperar algo

(primeira volta)
eu decido escrever um poema

então eu me sento
em algum banco de
madeira barato
ou uma cadeira

de um bar inundado
por olhares perdidos
e gentilezas
descompromissadas

acendo um cigarro
e de forma natural

tão natural quanto
meu choro milagroso
depois de sete meses

passo a escrever

anteriormente
meus poemas eram
filmes de cinema
ou espetáculos

(segunda volta)

exposições
performances sanguinárias
cheias de amor ou
de ódio

sempres encenados
pelo formidável
que se sentava
nas nuvens

que eram banhadas e
recebidas com
toda grandiosidade
do sol suburbano

ou em pós-apocalipses
enfiados em um quarto
onde o maestro era
uma vodka barata

que se apoiava no pé
de minha cama

as lágrimas e o ardor
no peito e garganta
e as cores vermelhas
em minha visão

eram minhas armas
de guerra

(terceira volta)

então tudo aquilo
seria um mar de
sangue e órgãos

uma chacina

poemas furiosos
ou enciumados
ou apaixonados
ou convictos

de alguma traição
ou de algum
encerramento
ou começo

poemas cheios de
vida
mesmo falando
sobre a morte

cenários galácticos
ou cidades fantasmas
e contos sobre
meninas que eram

nebulosas em andrômeda

fotografias anexadas
de tardes ensolaradas
onde serviriam como
paz estampada nos

olhos

poemas sobre planetas
com nome de estrelas
protagonizando sua
imagem perfeita

(quarta volta)

poemas que criavam
pernas e faziam
o trabalho por si
sem nenhum esforço

de um jovem garoto
que não sabia
nem o que significava
um soneto

ou escrever em si

hoje os cenários
são tão apáticos
quanto os prédios
empresariais

souvenires baratos
facilmente conquistados

apenas sorria e acene
quando me ver

parabéns, aqui está seu
poema

me chame para
beber e
seja recusada

parabéns, aqui está
seu poema

(cinco voltas)

ou me ignore enquanto
passa com seu
novo amor
para cima e para baixo

parabéns, aqui está seu
poema

e nascem do nada
deficientes e
sem força
eternas promessas

são carentes de
vida e
espírito

pois não brilha em
nenhum outro peito
mais

não reflete nenhum
outro amor ou
ódio mais

não são anjos que
secam lábios
manchados de
sangue

(seis voltas)

anunciam o fim
do que já havia
terminado

e todos os dias
repetem uma função
ordinária

são passatempos

pois desde que eu
iniciei esse poema
vinte e cinco
minutos

se passaram

e o velho que caminha
com passos desesperados
ao redor do prédio completou
seis voltas agora pouco

as luzes vermelhas
desse mundo
sem olhos e
sem brilho

flamejaram

e os meus últimos
pensamentos

fizeram os
mesmos
caminhos
de sempre

os mesmos assassinatos
e os mesmos
atropelamentos nas
avenidas

e os mesmos
assaltos nas
ruas de
são cristóvão

e a mesma
civil tower
que é deus
para seus fiéis

sétima volta

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