as vezes
quando eu preciso
esperar algo
(primeira volta)
eu decido escrever um poema
então eu me sento
em algum banco de
madeira barato
ou uma cadeira
de um bar inundado
por olhares perdidos
e gentilezas
descompromissadas
acendo um cigarro
e de forma natural
tão natural quanto
meu choro milagroso
depois de sete meses
passo a escrever
anteriormente
meus poemas eram
filmes de cinema
ou espetáculos
(segunda volta)
exposições
performances sanguinárias
cheias de amor ou
de ódio
sempres encenados
pelo formidável
que se sentava
nas nuvens
que eram banhadas e
recebidas com
toda grandiosidade
do sol suburbano
ou em pós-apocalipses
enfiados em um quarto
onde o maestro era
uma vodka barata
que se apoiava no pé
de minha cama
as lágrimas e o ardor
no peito e garganta
e as cores vermelhas
em minha visão
eram minhas armas
de guerra
(terceira volta)
então tudo aquilo
seria um mar de
sangue e órgãos
uma chacina
poemas furiosos
ou enciumados
ou apaixonados
ou convictos
de alguma traição
ou de algum
encerramento
ou começo
poemas cheios de
vida
mesmo falando
sobre a morte
cenários galácticos
ou cidades fantasmas
e contos sobre
meninas que eram
nebulosas em andrômeda
fotografias anexadas
de tardes ensolaradas
onde serviriam como
paz estampada nos
olhos
poemas sobre planetas
com nome de estrelas
protagonizando sua
imagem perfeita
(quarta volta)
poemas que criavam
pernas e faziam
o trabalho por si
sem nenhum esforço
de um jovem garoto
que não sabia
nem o que significava
um soneto
ou escrever em si
hoje os cenários
são tão apáticos
quanto os prédios
empresariais
souvenires baratos
facilmente conquistados
apenas sorria e acene
quando me ver
parabéns, aqui está seu
poema
me chame para
beber e
seja recusada
parabéns, aqui está
seu poema
(cinco voltas)
ou me ignore enquanto
passa com seu
novo amor
para cima e para baixo
parabéns, aqui está seu
poema
e nascem do nada
deficientes e
sem força
eternas promessas
são carentes de
vida e
espírito
pois não brilha em
nenhum outro peito
mais
não reflete nenhum
outro amor ou
ódio mais
não são anjos que
secam lábios
manchados de
sangue
(seis voltas)
anunciam o fim
do que já havia
terminado
e todos os dias
repetem uma função
ordinária
são passatempos
pois desde que eu
iniciei esse poema
vinte e cinco
minutos
se passaram
e o velho que caminha
com passos desesperados
ao redor do prédio completou
seis voltas agora pouco
as luzes vermelhas
desse mundo
sem olhos e
sem brilho
flamejaram
e os meus últimos
pensamentos
fizeram os
mesmos
caminhos
de sempre
os mesmos assassinatos
e os mesmos
atropelamentos nas
avenidas
e os mesmos
assaltos nas
ruas de
são cristóvão
e a mesma
civil tower
que é deus
para seus fiéis
sétima volta