h
2 min readOct 3, 2024

em meu sono vi um

mundo que

não havia mais cristo e

nem os dogmas que os

romanos destruíram

as crianças eram demônios

expostas em circo aberto

e naquele dia, assim como os

outros

abandonamos dois amigos

ficaram pela estrada

junto com animais que

agonizavam, semi-mortos

quase entregues a total

escuridão

suas pernas estavam quebradas

e sangravam pela boca

gemiam, mas não sabíamos

o motivo — estavam mortos

ou quase —

um ônibus amarelo atravessava

o país, mas nunca saberíamos

onde estávamos, onde íamos

sempre empenhados em apenas

fugir dali, de onde fosse

e você ao meu lado

me cobrava dinheiro

enquanto eu sorria e

aproveitava os segundos

que tinha contigo

todos os homens cuspiam

fumavam cigarros de palha

eram terríveis e maldosos

mas você me olhava e apenas

se preocupava com seu dinheiro

com suas roupas, com seu prazer

com suas viagens e com

a vida que abandonou antes disso

mas eu sorria e aproveitava

os últimos segundos que

tinha contigo

os céus se revoltavam

e roda, mexe e vira

se envermelhavam

as mães seguravam suas

bolsas vivas, seus sonhos

abandonados, pela mão

e choravam enquanto

falavam sobre Deus

depois da terceira vez

em que você olhou, calada

e colocou a mão em meu

rosto

eu acordei

e em minha clareza

ainda via um mundo sem

cristo e tomado pelos romanos

e seus cavalos trotavam

em nossos jardins

homens terríveis os

chicoteavam e decidiam se

nós viveríamos ou não

os céus se revoltavam

e por algum motivo

persistia em um azul hostil

as crianças eram pesadelos

de um futuro não concebido

as mães se lamentavam

pela ida de seus filhos

os amigos, as galinhas

persistiam mortos na calçada

gemendo e agonizando, ambos

ônibus amarelos ainda

atravessavam o país

e em minha alma

sentia vontade de fugir

sem pensar para onde ir

apenas empenhando

em sair dali

tudo está aqui

tudo, menos você

h
h

No responses yet