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2 min readAug 29, 2024

uma barata invadiu o set de filmagens e foi violentada em pedaços

um coelho com mixmatose foi dado como morto

um morcego com raiva foi acovardado pela luz

um cão sarnento vagava pelo tempo nublado

um dia eu vou formar asas e vou te puxar pelo pé

uma reação química de uma criatura em sofrimento

um demônio que reafirma sua existência todo dia no inferno

um pombo que é atropelado na avenida em plena luz do dia

um porco que nunca conseguiu ver a cor do céu

um dia eu vou criar asas e vou te puxar pelo pé

uma abelha que não vê a hora de entregar sua ferroada final

um gato preto sem bigode, sem olfato e com medo da água

um grilo que esqueceu sua partitura em casa

um anjo que não enxerga seu reflexo

um dia eu vou formar asas e vou te puxar pelo pé

o último ponto final dessa história

a indecência de um tempo que não volta mais

a prisão de carne nesse corpo que não me pertence

a piscina de vazio que minha alma afunda

um dia eu vou criar asas e vou te puxar pelo pé

o tubarão cego que nada a direção contrária

os supostos olhos de minha filha morta

o sangue que escorre de minha última vítima

o rio de lama no qual fui sepultado

um dia vou criar asas e vou puxar te puxar pelo pé

o perfil eterno de um mártir romântico

o sorriso discreto da insígnia do ódio

o circo que pega fogo e o palhaço sádico

as pontas dos meus dedos em sangue

um dia eu vou criar asas e vou te puxar pelo pé

um rato contagioso perdido em seu próprio esgoto

uma mariposa metamorfoseada tentando sair da noite

um peixe desescamado que se treme em solo quente

um verme emético que mastiga seu corpo branco vagarosamente

um dia eu vou criar asas e vou te puxar pelo pé

uma aberração frustrada de natureza maldosa

um urso pardo enjaulado e acorrentado

a última crítica e o último beijo

o último olhar e a última vaia

um dia eu vou criar asas e vou te puxar pela saia

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