Ontem a noite, entre 22:50 e 23:10, ao fumar meu nono cigarro do dia na janela, eu vi Você. Na janela escura, a qual a luz nunca se acende, no prédio a frente. Hoje de madrugada, entre 02:00 e 02:05, ao dormir, Você me acordou. No quarto escuro, o qual o cheiro de cigarro nunca se passa, neste prédio.
Senti que deveria te escrever isso, como um presságio do fim ou uma vírgula trivial. Senhor, pequei muito, menti muito, bebi muito, amei pouco, temi pouco, sofri muito; ao meu desejo. Abandonei a igreja, e a crença, cri pouquíssimo. Xinguei muito, deserdei, abandonei, desobedeci meus pais, desonrei a todos, traí, matei, roubei, roubei muito, me escondi, fugi.
Ao olhar em seus mortos olhos naquela janela escura, dormir em meio a fumaça, e acordar nessa massa cinzenta cotidiana, tive certeza que não me arrependera de nada. Aceito a morte e o castigo de bom grado, pois não mereço nada diferente. Eu não sou tão ruim nem para o homem que pior acha de mim, eu sou pior. É o seu dever como meu Deus, encerrar qualquer suspiro ou inspiro ordinário e miserável como o meu.
Com menos temor do que eu gostaria de ter, de sua maior falha para meu maior erro.