inevitavelmente
mais um dezembro
chega
e com ele as luzes
natalinas e
as promessas
de fim de ano
os planos, os ensaios
os colegas que
finalmente se
recordam
de sua existência
sorrisos esticados
em faces de plástico
que atestam o fim
de mais um ano
atrás de cada
carteira de cigarro
vem escrito
um manual
de como amar
de como suspirar
quando preciso
e quando entender
o fim de um ciclo
algumas lágrimas
engessadas em
peitos abertos
se tornam cera
e formam velas
que são acesas
para uma última
cerimônia
uma ceia
uma reunião
onde os cães
se encaram
por horas seguidas
esperando um
próximo abrigo
em um dezembro
de fim de ciclos
os órgãos se contraem
e forçam a assimilação
do que poderia ser
uma derrota
e as manhãs
entre manhãs
que se misturam
nas noites
entre as tardes
entregam ventanias
tão tranquilas
e traíras
as quais sussurram
“vá devagar”
de forma repetitiva
em diferentes olhos
diferentes peles
em gostos tão amargos
ou na metade dos orgasmos
que nuca se completam
escutamos sussurros
que dizem
“vá devagar”
em mãos de escritoras
ou em contos sobre
amores e épocas
que poderiam ser
piores
conseguimos ler
“vá devagar”
em piscares de olhos
nas linhas de meus
poemas, textos
cartas e declarações
consigo ver em
clareza e nitidez
“vá devagar”
uma face já conhecida
que antes me dizia
quando menino
todo fim de um ciclo
se encerra pelo início
e não há arte nos
céus e nos cantos
de sereias aos mares
que me salvaria
desse último
suspiro.