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1 min readAug 21, 2024

eu não pertenço aos céus

minhas asas foram negadas, no lugar me entregaram mais duas patas

para que eu pudesse me rastejar aos cantos, sempre numa espécie desafinada de prantos

essas lágrimas mancharam o chão, com um vermelho-sangue tão forte, mas também em vão

eu não pertenço aos céus

formei retratos com essa tinta, pintei quadros com essa ira

escrevi versículos com esse escarlate, acreditando estar em catarse

pensei um dia que voaria, decidi então que gostaria

de conhecer o azul de cima, tentar admirar uma única e nova vista

tentei me salvar com essas palavras, com essas frases rimadas

com esses elogios sinceros, com esses sorrisos elétricos

com essas declarações tão agudas, que nasceram de uma face tão úmida

com essas histórias tão bonitas, narradas por uma paixão incisiva

com um toque tão jovial, que vieram de mãos delicadas e um sorriso angelical

me enganei ao tomar posse dessa alma que não era minha, não me pertencia

eu não pertenço aos céus

mas você sim

voe e volte com um capim em seu bico, todo corvo precisa de um ninho

meus dedos assinam meus poemas e textos com sangue

minhas lágrimas são puro sangue

meu amor é somente sangue

minha paixão é banhada por sangue

a saudade corre em meu sangue

a aceitação não estanca esse sangue

e eu temo que você esqueça o gosto de meu sangue

mas mesmo assim, voe, pássaro errante

você vai conquistar o mundo

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