vá devagar

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1 min readDec 2, 2024

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inevitavelmente
mais um dezembro
chega

e com ele as luzes
natalinas e
as promessas
de fim de ano

os planos, os ensaios
os colegas que
finalmente se
recordam

de sua existência

sorrisos esticados
em faces de plástico
que atestam o fim
de mais um ano

atrás de cada
carteira de cigarro
vem escrito
um manual

de como amar
de como suspirar
quando preciso
e quando entender

o fim de um ciclo

algumas lágrimas
engessadas em
peitos abertos
se tornam cera

e formam velas
que são acesas
para uma última
cerimônia

uma ceia
uma reunião
onde os cães
se encaram

por horas seguidas

esperando um
próximo abrigo
em um dezembro
de fim de ciclos

os órgãos se contraem
e forçam a assimilação
do que poderia ser
uma derrota

e as manhãs
entre manhãs
que se misturam
nas noites

entre as tardes

entregam ventanias
tão tranquilas
e traíras

as quais sussurram
“vá devagar”

de forma repetitiva

em diferentes olhos
diferentes peles

em gostos tão amargos
ou na metade dos orgasmos

que nuca se completam
escutamos sussurros
que dizem
“vá devagar”

em mãos de escritoras
ou em contos sobre
amores e épocas
que poderiam ser

piores

conseguimos ler
“vá devagar”

em piscares de olhos
nas linhas de meus
poemas, textos
cartas e declarações

consigo ver em
clareza e nitidez
“vá devagar”

uma face já conhecida
que antes me dizia
quando menino

todo fim de um ciclo
se encerra pelo início

e não há arte nos
céus e nos cantos
de sereias aos mares

que me salvaria
desse último
suspiro.

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