A fuligem que me cala transparece em minhas veias
O alvéolos queimados me doa esse bafo de fogo
Subtrai meus órgãos em relação aos meus ossos
E eu sinto tudo isso sem gritar, me cortar, chorar, tudo o que posso
Limita meus pensamentos e meu movimento
Atrofia meus limites, músculos e aspectos futuros
Força minha mão a se fechar e minhas lágrimas ferverem até evaporar
Tira meu apetite, apodrece meus dentes, sangra meus olhos até cegar
Drena meu vigor e arranca o brilho dos meus olhos
Fuligem esta que é tão preta que ofusca o carmesim da minha raiva
Transforma meu sangue em negro, negro sem esperança, sem estrelas
Sem fogo, sem sol, sem vida, sem queixas
Retira o amor que conquistei, que pintei nesse quadro
Sequestra o prazer, que meu corpo sentia ao deitar na areia
Queima minha casa, minha base, me abandona na rua
Parte o meio os céus, e apaga a luz da lua
Pouco a pouco, me sinto cada vez mais morto
Pouco a pouco, minha pele se absorve ao solo
Pouco a pouco, choro cada vez mais pouco
Pouco a pouco, não sinto nada onde toco
Fuligem esta que apelido carinhosamente de “ódio”.